Shinji Mikami havia jogado uma ideia no ar. Agora ela tomou o rumo que deveria.
The Evil Within 2 chegou para mostrar o como uma narrativa bem construída pode dar identidade sólida para uma franquia. O segundo título mexe muito mais com o psicológico, tem um roteiro bem estruturado, e trouxe uma mecânica completamente refinada.
De volta ao STEM
Voltamos a controlar Sebastian após os eventos do primeiro game. Ele agora está abalado sem saber se o que vivenciou foi real ou um enorme pesadelo. Sebastian é encontrado pela Mobius (organização vilã da franquia) para realizar um serviço, e as coisas começam a ficar mais claras.
Devemos voltar ao STEM, a máquina de consciência coletiva, para limpar a bagunça de algo que deu muito errado. E aí, descobrimos que a filha do Sebastian ainda está viva, e passaremos pelo inferno tentando encontrá-la lá dentro.
Pessoal, tocante e perturbador
A história é com certeza o maior triunfo desse game. Depois de jogar The Evil Within 2, percebemos o quão vaga era a narrativa do primeiro título. Lá, a porção mais interessante da trama era contada apenas em textos.
Precisávamos nos esforçar para encontrar a identidade dos personagens e nos importarmos com eles, sem contar que para compreender a trama inteira você precisava adquirir as DLC’s, porque no grosso você vivia apenas um pesadelo o qual tentava entender de forma dedutiva até o fim da trama.
The Evil Within 2 aproveitou muito bem os textos e ganchos deixados no primeiro game, e os transformou em história profunda e verdadeira. Antes nós estávamos passando apenas maus bocados junto ao Sebastian sem nem conhecê-lo direito.
Agora nós sentimos a dor do detetive. Vivemos seus medos e pesadelos, e nos importamos com ele.
A busca pela redenção familiar tornou a história muito mais envolvente e cativante. Conhecemos o Sebastian de forma mais pessoal, e nos motivamos a fazer de tudo para encontrar sua filha no meio desse inferno todo. Ele lembra o tempo todo do passado, e faz reflexões constantes sobre o que aconteceu no primeiro game, e na família dele conforme obtemos colecionáveis e progredimos.
Os vilões principais chamam a atenção. Cada um possui uma personalidade forte, assinatura única, e você é instigado a vencê-los. As criaturas estão ainda mais horrendas, com formas surpreendentes que nos fazem imaginar de onde os developers tiram tanta ideia bizarra. É macabro, doentio e funciona muito bem.
Com o terror completamente voltado para o psicológico, o tom intimista da história é mais do que correto. E apesar de muitos momentos agonizantes, temos surpresas imprevisíveis, inúmeros trechos envolventes e emocionantes.
Temos explicações muito melhores de todo esse universo, e agora sim a história toda tem uma identidade, uma motivação, e a construção desse drama é de arrepiar.
Mundo (quase) aberto
Quando jogamos o primeiro game, temos a impressão de que estamos em um pesadelo o tempo todo. O cenário muda repentinamente, alucinamos, pessoas desaparecem na nossa frente, caímos em buracos sem fim, e por aí vai.
Aqui a ideia é ainda maior e o conceito do STEM é muito mais bem aproveitado. O game é composto de pequenas áreas de mundo aberto lotado de perigo. Sair para explorar nos deixa à flor da pele, e é necessário.
O game também conta com trechos lineares que fazem muita progressão da história.
Mesmo assim, continua imprevisível. Você pode estar explorando alguma casa ou investigando um cadáver e de repente tudo muda, e você se encontra fugindo de uma criatura horrenda, cumprindo um trecho linear, e sobrevivendo até retornar onde estava no mundo aberto.
Pequenos pesadelos reais ao longo da exploração de lugares que por si só já são aterrorizantes.
Perigoso e Recompensador
Todo risco vem com uma recompensa. Em The Evil Within 2 é preciso arriscar.
Os recursos de criação, sobrevivência e fortalecimento de Sebastian são extremamente escassos, então a busca por eles é constante. O game possui algumas sidequests e missões instantâneas.
Falando com os agentes da Mobius de cada área e escolhendo os diálogos podemos não só conhecer mais da história e personagens, como também pegar sidequests. A recompensa por essas missões é um pouco mais generosa, mas o perigo vem junto. Nunca vai ser tarefa fácil, e criaturas mortais sempre estarão no nosso caminho.
Se esgueirar é extremamente eficaz. O game tem mecânicas de stealth, cover, sneak kill e distrações bem melhoradas. Se até mesmo o inimigo mais comum pode ser fatal, precisamos saber contornar, coletar recursos, construir itens corretos, e muitas vezes a sensação é de estar jogando um “The last of Us” (o que é um ótimo sinal por acaso.).
Podemos também usar o rádio do Sebastian para encontrar pontos de interesse no mapa como memórias residuais, melhorias de capacidade de munição, armas novas e recursos. Ir à esses pontos é sempre perigoso. Você precisa pensar e dar o seu melhor para conseguir pegar os itens mais valiosos e ainda sobreviver para usufruir.
Nem mesmo os pontos de “viagem rápida” estão seguros. Para transitar de uma área para outra, passamos por um sistema de túneis chamado “medula”, também repleto de inimigos. Voltamos aqui ainda mais vezes quando realizando as sidequests.
Os únicos pontos realmente seguros do game são os esconderijos marcados, sempre acompanhados de um NPC do local, um espelho para a sala do Sebastian (onde melhoramos nossas armas e personagem como no primeiro game), e uma máquina de café para recuperar a saúde sem disperdiçar nossas preciosas seringas (com um tempo de preparo absurdamente longo entre uma xícara e outra, então beba com sabedoria).
Um retorno incomparável
The Evil Within 2 explora todo o potencial do novo universo de Shinji Mikami e acerta em todos os aspectos.
Não tem nem como comparar com as dimensões do primeiro game (que já era bom).
A história aqui foi muito bem construída e bem contada o suficiente para ser jogável sem a necessidade de conhecer o primeiro título (e que na verdade faz seu antecessor parecer pobre de trama).
Mesmo assim para quem jogou o primeiro game, essa sequência trará surpresas e momentos ainda mais emocionantes.
Os momentos derradeiros empolgam, e tudo nesse game nos deixa imersos.
Até mesmo a dublagem em PT-BR está impecável.
Bethesda e Tango Gameworks tiveram um cuidado incrível com esse game e revitalizaram uma franquia que parecia estar pronta para entrar na gaveta.
Essa obra contempla um dos melhores Survival Horror’s do ano.
- A Bethesda nos enviou o jogo para teste na versão PC