A espera de 8 anos terminou… O ambicioso RPG de ação “Cyberpunk 2077“, da polonesa CD Projekt Red, finalmente foi lançado no dia 10 de dezembro de 2020.
Aqui no Brasil ele é distribuido pela WB Games e está disponível para PlayStation 4, Xbox One, Stadia e PC, trazendo legendas e dublagem em português.
Os consoles PS5 e Xbox Series X|S ainda não possuem versões próprias, porém, podem acessar via retrocompatibilidade os jogos lançados para PS4 e Xbox One.
Night City é uma vasta e complexa cidade onde iremos passar muitas e muitas horas. Poder, glamour, modificações cibernéticas, alta tecnologia, caos e pobreza são partes que a definem muito bem.
Estamos na pele (e circuitos) de V, um mercenário fora da lei que está em busca de um implante que lhe traga a imortalidade. Temos de início uma longa introdução com vários tutoriais e missões para “ir pegando o jeito”. Muitas horas são gastas nessa parte, porém, horas muito bem gastas. Tudo servirá como uma ótima introdução ao que está por vir.
Em seguida, ficamos livres para explorar. Aos poucos vamos conhecendo personagens importantes e nos aventuramos numa história muito bem elaborada. Sem querer dar spoilers, dá para dizer que os objetivos principais de V acabam se modificando com o passar das missões. Em certo ponto, grande aliados se reunirão para uma grande missão em conjunto.
O grande tamanho que o jogo ocupa no HD tem um motivo: Night City é muito detalhada. Não somente pelos vários tipos de construções e bairros, como também texturas diferenciadas, número de objetos, personagens, animações e vozes.
Essa variedade também encontra-se na construção da sua versão do V. Como é possível editar vários detalhes, o jogador pode tentar se recriar dentro do jogo ou fazer o que der na telha. Até mesmos partes íntimas podem ser modificadas e trocadas (independente do gênero escolhido), algo que irá afetar alguns diálogos posteriormente.
Em todo caso, não dá para editar algumas coisas, como o peso do V ou detalhes do rosto como altura das sobrancelhas, distaciamento e profundidade dos olhos ou nariz, etc.
Sobre as versões para console, as melhores são para PlayStation 4 Pro e Xbox One X, já que são essas que rodam nos consoles de nova geração. Enquanto isso, as versões para PS4 e Xbox One comuns tem muito mais problemas de desempenho. Realizei meus testes no PS4 PRO, então é sobre ela que irei comentar.
Graficamente, CP2077 impressiona bastante à primeira vista. Night City possui vários bairros diferentes e muita influência da cultura oriental. O contraste entre a tecnologia e a sujeira é bem visível e chocante, tanto de dia como de noite.
Aliás, a variação de iluminação nas várias horas do dia foi muito bem trabalhada, batendo jogos recentes como Watch Dogs: Legion. É impossível não se sentir dentro neste mundo.A câmera em primeira pessoa também é bastante responsável pela imersão do jogador, ainda que durante a pilotagem dos veículos seja possível ver eles por fora.
Eu sou do time que ficou pasmo quando descobriu que o jogo não seria em terceira pessoa. Afinal, você modifca tanto o seu personagem e não consegue vê-lo na maior parte do tempo. Mas no fim das contas, isso funciona, CP2077 foi um jogo todo pensado para primeira pessoa, e pode ser comparado a outros jogos com essa proposta como Skyrim, Fallout ou Dishonored. A prova disso é que houve bastante empenho em deixar realista a movimentação da câmera que simula o olhar de V.
A liberdade que o jogador recebe é bem grande. Existe mais de uma forma de resolver as missões e nem sempre tudo acaba em tiroteio. Há a possibilidade de se hackear sistemas, agir furtivamente e até mesmo usar o bom e velho diálogo.
Acabei não comentando, mas assim que você cria seu personagem V, deve escolher um dos três estilos de vida: nômade, marginal e corporativo. Inicialmente, isso afeta onde o jogo irá começar, mas, depois seguirá o caminho único da campanha.
Qual seu estilo de vida favorito? (a imagem acima foi editada)
Para momentos de combate, o jogador pode optar pelas armas de fogo, sendo que cada tipo afeta até mesmo a forma como V se movimenta. A variedade de armas é grande, sendo possível modificar cada uma delas.
Durante a ação pode-se ativar algumas habilidades para dectar os inimigos, além de ser possível usar coberturas para se proteger. Não deve em nada a outros shooters do mercado.
Também é possível usar armas brancas e fazer um combate mais corpo a corpo. Infelizmente, desse modo fica um pouco mais difícil enfrentar vários inimigos de uma vez, já que é muito fácil perder a visão de um quando se concentra em outro.Os implantes trazem uma boa quantidade de modificações, tornando V realmente poderoso. Imagina poder soltar projéteis da mão, esconder armas no braço, usar pulo duplo, melhorar a distância da visão, acessar computadores mais coplexos. Sim, você pode isso e muito mais.
As árvores de habilidades são bem extensas. Dá até para ficar em dúvida sobre o que evoluir primeiro. Porém, isso mostra que o jogador tem liberdade para focar no que quer se tornar, tendo uma experiência mais única e pessoal.
Mesmo sem raytracing, as sombras e iluminação são muito boas
Algo que impressiona muito são decisões que são feitas em certa parte do jogo e refletem em acontecimentos várias horas depois. Embora CP2077 foque bastante nas missões principais e secundárias, ainda existem algumas outras coisas para fazer, como participar de corridas, interferir em assaltos aleátórios feitos por NPCs, etc.
O jogador pode escolher entre pilotar motos ou carros. E cada veículo possui sua própria jogabilidade, sensação de peso e forma de fazer curvas. Nada muito realista, mas divertido, lembrando muito outros jogos de corrida estilo arcade.
Outro fator que talvez explique o grande tamanho em gigabytes de CP2077 é a grande quantidade de diálogos falados. Todos estão sempre falando muito, o tempo todo. E são conversas bacanas, principalmente com os parceiros de V.
A atuação de voz brasileira mais uma vez está de parabéns. Os dubladores foram bem escolhidos e o texto não foi traduzido de maneira simples, ele tem gírias e frases que costumamos ouvir por aqui.É difícil encontrar algum NPC repetindo animações. Não sei se é algum tipo de algoritmo ou se fizeram captura de movimento para todas as situações. Em todo caso, é impressionante como animações corporais parecem realistas e repetem pouco.
Dá para diz que o estúdio CDPR (CD Projekt Red) tinha uma grande ambição com este jogo. Todos os aspectos dele foram pensados de maneira expansiva e complexa. Indo do tamanho da cidade até a trama principal. Embora a campanha não seja gigantesca, ela tem um bom tempo de duração e o restante de coisas extras para fazer torna a experiência bastante completa.
Infelizmente, problemas também existem.
O lado ruim
Tudo o que comentei até agora foi a parte bacana do jogo. Porém, nem tudo são flores, e sendo bem sincero, existem muito mais cactos do que flores.
CP2077 foi acompanhado de um imenso hype que surgiu quando ele foi anunciado em 2012 (tendo seu primeiro trailer divulgado em 2013). A partir daí, tivemos o renomado The Witcher 3, que deu à CDPR um status elevado e uma imagem diferenciada em relação outras empresas do ramo.
Não é para menos. O jogo do bruxeiro criou tendência no mercado e influenciou muitos jogos como os recentes Assassin’s Creed e Ghost of Tsushima. com isso, o público e a mídia especializada tinham total certeza que CP2077 seria tão inovador e certeiro quanto The Witcher 3 foi.
Com vocês, o incrível carro da abertura que não carrega textura nem polígonos!
Infelizmente, apesar da grande quantidade de vídeos e ações de marketing, a CDPR não “abriu o jogo” totalmente sobre a produção. Foram vários adiamentos durante 2020 com o pretexto de remover pequenos bugs e polir a jogabilidade, para trazer a melhor experiência possível.
Não conheço alguém que tivesse duvidado disso e acredito que você também não. Todos aguardaram o tempo que foi pedido pois esse jogo era uma das promessas do ano.
No entanto, o que acabou sendo lançado foi um jogo que roda bem na versão PC, mas tem muitos problemas nos videogames. Fica pior ainda quando se trata dos consoles base PS4 Fat/Slim e Xbox One Fat/S.
O carregamento de texturas ou modelos em alta definição está muito lento. Lembrando que foi para essas versões de consoles que CP2077 foi prometido lá em 2012.
Os vídeos de coletâneas de bugs estão bombando no YouTube neste momento e tem um mais bizarro que o outro. Isso me lembra o desastroso lançamento de Assassin’s Creed Unity, da época em que a Ubisoft estava lançando até mais de um jogo da franquia por ano.
Eu entendo a revolta dos fãs com CP2077, afinal, ao contrário da Ubisoft, a CDPR tinha apenas um jogo em desenvolvimento que levou anos para lançar. Ele pesa por volta de 100gb no PS4 PRO e na semana do lançamento um patch de 7gb foi disponibilizado. Saiu mais um com cerca de 40gb, no dia 18 de dezembro, e teremos outros em janeiro e fevereiro de 2021, segundo recado da própria produtora.
Assim, por saber que o jogo irá mudar drasticamente num futuro próximo, a nota que darei a ele agora será somente parcial. Vou aguardar o término de sua grande saga de desenvolvimento para dar meu veredito final.
Curiosamente, não tive crashs durante meus testes. O início para mim foi sossegado, até mesmo não entendi porque tinha tanta gente reclamando um dia após o lançamento (depois caiu minha ficha, claro).
No entanto, acabei presenciando cenas bizarras, personagens voando ou sentando no nada, carros sumindo, sombra torta… Até mesmo ícones do mapa sumiam e portas não abriam.
Sem falar que alguns textos no canto da tela chegaram a aparecer numa língua que desconheço. Outras vezes, também nessas mensagens, aparecia algum código de programação no lugar no lugar de algum ícone. Tenso…
A CDPR chegou a emitir um pedido de desculpas até mesmo em português
No momento em que estou escrevendo esta review, tanto a Microsoft como a Sony estão realizando um número enorme de reembolsos para jogadores insatisfeitos. O jogo até mesmo foi retirado da loja PSN.
A imagem que o público tem da CDPR certamente foi afetada. Mas acredito na boa vontade da empresa e torço para que ela consiga reverter, trazendo mais polimento e qualidade aos jogadores, principalmente aos que jogam nos consoles base da geração PS4/Xone.
Grandes jogos com hype imenso, quando têm lançamentos tão conturbados, acabam criando uma mancha que é difícil esquecer. A Ubisoft sabe bem disso, por conta do AC Unity, e até mesmo a SEGA, com Sonic The Hedgehog 2006.
Espero que esse caso da CDPR sirva como uma lição para outras empresas não caírem novamente nesse mesmo erro. É melhor adiar do que lançar pela metade!
——————
Vale a pena pegar agora?
Após a suspenção da venda dele na PSN, ele só pode ser adquirido em mídia física por enquanto nos consoles da Sony. Não sei se isso irá acontecer nas lojas do Xbox também, apesar de ser bem provável.
Por não estar em sua melhor forma ainda, acredito que não faria mal esperar ao menos a atualização de janeiro de 2021.
No PS4 PRO e Xbox One X o desempenho não está tão ruim assim (posso dizer que joguei uma das melhores versões de console, já que é a mesma que roda no PS5).
Ao jogar no PS4 PRO, notei que existe até mesmo anti-aliasing que removem serrilhados dos polígonos. Isso é algo que é muito mais comum em jogos exclusivos do console. Com isso, fica claro que os produtores tentaram se empenhar de alguma forma, mas algo deu errado na conclusão do projeto.
Talvez um dia nós saibamos o que aconteceu, mas, por enquanto só podemos especular.
Quando CP2077 foi anunciado, ele estava sendo produzido para as versões base do PS4 e Xbox One. Algo que não estava nos planos da CDPR era o surgimento das versões aprimoradas dos dois consoles. Com isso, ela foi obrigada a criar mais variações do jogo, aumentando o tempo de produção.
O tempo foi passando e a nova geração chegou. Assim, a CDPR teve que produzir mais três versões: para PS5, Xbox Series S e Series X. Lembrando que essas ainda nem foram entregues…
Ele está triste pois foi jogar Cyberpunk 2077 num Xbox One Fat
Talvez, um fator que complicou o desenvolvimento, foi a ambição e o escopo do jogo. Tudo é muito grande, denso e detalhado. Tanto nos gráficos, como animações, textos, vozes, cenários, objetos, personagens, NPCs. Talvez tenha sido muita areia para o caminhão dos desenvolvedores.
Todos acreditavam que a CDPR fosse extremamente perfeccionista por conta do The Witcher 3, que realmente trouxe qualidade e inovação ao mercado. Porém, o que CP2077 nos provou, é que, em primeiro lugar, se trata de uma empresa detalhista. A ponto de manter o escopo de um projeto tão grande, que o impossibilitasse de ser lançado dentro do período de duração de uma geração de consoles.
Quem sabe daqui alguns meses, a CDPR não recupera seu título de perfeccionista?
Atualizações sobre os patches de Cyberpunk 2077 podem ser vistas através do perfil oficial no twitter. Clique aqui para acessar.
NOTA: 6/10 (por enquanto)
O melhor: Bastante imersivo e viciante se você ignorar os bugs gráficos
O pior: Os desenvolvedores vão correr contra o tempo para arrumar consertar tudo
Para nossa alegria: Cerca de 90% dos bugs não impedem de progredir no game
- A WB Games nos forneceu uma cópia digital para este review, testado no PS4 PRO